domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pensando no Dia dos Namorados...

O dia 14 de Fevereiro, conhecido como de S. Valentim, é uma antiquíssima celebração que data de tempos remotos, muito anteriores ao Cristianismo. São festejos relacionados com a fertilidade e o ressurgimento da vida, aos quais o Ser Humano primitivo prestava homenagem e com com os quais procurava sintonizar-se. Esta data marcava, segundo o folclore, o início da época de acasalamento das aves... e não só.


Na Roma Antiga era o dia de honrar Juno, a grande Deusa-Mãe, protectora da família. Na noite de passagem de 14 para 15 de Fevereiro, celebrava-se a Lupercalia, a festa de Lupercus - o grande Pã, divindade primordial que rege as florestas, os animais, os rebanhos, a procriação e toda a Natureza em geral. 

Os festejos eram feitos de acordo com a energia vigente, com muita comida, bebida, música e paixão. Ainda se conhecem alguns rituais que eram praticados por esta altura, por exemplo, as raparigas participavam de um sorteio, no qual retiravam de uma caixa o nome de um rapaz que seria o seu par durante as celebrações. Às vezes, acontecia que acabavam por ficar juntos durante todo o ano seguinte. Outra tradição romana mandava que os rapazes fizessem o sacrifício ritual de uma cabra no santuário de Lupercus, localizado numa pequena gruta sob o Monte Palatino onde, segundo o mito, Rómulo e Remo tinham sido criados pela Loba. Após o sacrifício, o animal era esfolado e a sua pele vestida pelos participantes que, assim preparados, corriam pelas ruas, perseguindo as raparigas, metendo-se com elas e batendo-lhes com pequenos ramos. Este ritual era destinado a estimular a fertilidade. Curiosamente e apesar de já não ser em nome de Lupercus, esta e outras tradições são mantidas até hoje em terras portuguesas, nas aldeias do Norte do país e também no Alentejo, entre Fevereiro e Março.

Resta a pergunta... mas afinal quem era o Valentim? 


Surgem várias respostas, sendo que todas elas mantém algumas notas em comum...

Uma das histórias reza que Valentim era um padre cristão contemporâneo do imperador Cláudio II. Este imperador romano queria constituir um grande exército, no entanto, confrontava-se com o facto de os homens casados serem dispensados do serviço militar. Assim, decidiu proibir os casamentos aos jovens, de modo a conseguir homens suficientes para o seu propósito. Valentim, aparentemente, desobedeceu ao decreto imperial e, pior ainda, foi apanhado em flagrante. Foi preso, torturado e finalmente decapitado em 14 de Fevereiro de 269 d.C.. Outra história diz que Valentim era bispo de Terni e que foi preso, não só por celebrar casamentos ilegais, mas também por ajudar os cristãos numa altura em que estes ainda eram bastante perseguidos. Certa tradição popular conta que, durante a sua estadia nos calabouços, Valentim apaixonou-se pela filha do carcereiro, tendo-lhe escrito vários bilhetes. Existiu ainda um outro Velentim que foi mártir em África...

Importa dizer que, na época, Valentim era um dos nomes mais comuns e que a falta de registos, bem como a imaginação popular, turvaram os factos reais acerca deste personagem. O certo é que o papa Júlio I (337 - 352 d.C.) ergueu uma basílica na Via Flaminia onde, segundo a lenda, Valentim tinha sido decapitado. Mais tarde, o papa Gelásio I (492–496 d.C.) declarou que as celebrações de 14 de Fevereiro deveriam deixar de ser feitas em honra de Lupercus, passando a ser o dia de S. Valentim, mártir da Igreja. Esta alteração permitiu que o Cristianismo absorvesse a data pagã e que, com o tempo, fosse transformando os símbolos de modo a encaixarem na doutrina cristã. Todas as manifestações que pudessem evocar a sexualidade foram banidas, na esperança que a força do tempo as fizesse desaparecer do imaginário popular.

É evidente que tal não aconteceu! 


Chegando ao Renascimento, a cultura ocidental fartou-se da visão fechada e castradora da Igreja e as mentalidades começaram a mudar mais uma vez. A devoção a santos mártires entrou em declínio até que, à chegada do Iluminismo (sec. XVIII - XIX) estava completamente ultrapassada. Por fim, com a alvorada da era moderna, a data de encontrava-se despojada de significado e, em 1969, foi abandonada pela Igreja Católica, não sendo actualmente considerado um feriado religioso. 

Assim voltaram a reaparecer os símbolos e significados originais - de S. Valentim ficou apenas o nome, envolto nas milenares tradições pagãs do Amor. Por todo o mundo a data continua a evocar a sensualidade, os casais trocam bilhetes, presentes e deixam-se levar pela paixão. Algumas das antigas tradições reapareceram sob a forma de pequenos jogos de adivinhação destinados a saber o nome do par e, mesmo os antigos feitiços de amor entraram em força na cultura ocidental, sob a forma de jantares românticos com vinho e velas, doces, perfumes inebriantes e lingerie sedutora.

Com a benção de Cupido, é este o Dia dos Namorados!

Que a Vida surja da noite invernal
Que invada o mundo
Despindo-o de tudo que é velho
Exaltemos a chegada do Sol
Das cores à sagrada Terra
Bem como às nossas faces!

Das cinzas nasce a Fénix
Banhemo-nos na sua glória
Cantemos com os nossos irmãos
Pelas florestas e pelos campos
Bebamos do néctar dos deuses
E sejamos unos com o Cosmos!

8 comentários:

teresa g. disse...

Sabes que eu embirrava com a data, por me parecer mais uma americanice importada para dar o jeito ao comércio! Mas a história que contas sobre as origens pagãs faz todo o sentido. E o poema final é muito interessante!

Hazel Evangelista disse...

Este post, cara amiga, está tão brilhante, que sugeri aos meus leitores que te visitem.

Beijinhos e bom fim-de-semana

Talma disse...

Uauuu...bem que Hazel falou que este post era perfeito.
Que pesquisa e forma de postar, excelentes!
Lindo!
Bjs do Brasil!!

Marisa Borges disse...

Olá Lemniscata,

adorei o teu artigo, já o tinha lido, e como a Hazel, optei por dar outra visão do dia no meu grimoire. Já lá passaste e sabes do que falo. Hoje é de facto um dia muito importante, as tradições, sejam elas quais for, escondem sempre um ensinamento antigo, devemos sempre procurar a verdade.
Adoro a invocação!

Um belo dia de Amor para ti.

Lemniscata disse...

Obrigada a todas pelos comentários :)!

Jardineira: as tradições são-no graças à sua substância, mesmo quando ela se perde no tempo. Acho que é importante trazer à luz "os quês dos porquês", pois são a nossa herança que devemos estimar e com a qual podemos aprender muito.

Hazel: brilhante é a luz na escuridão ;)! Bom fim de semana para ti também, querida amiga!

Talma: beijos também de Portugal :)! Já fui visitar os teus blogs e fiquei agradavelmente surpreendida :)!

Shin Tau: sinto-me feliz por podermos causar impressões relevantes uns nos outros. Como costumo dizer, não há nada mais perigoso do que uma verdade. A verdade é esse lugar último, onde todo o caminho acaba e mais nada se produz. É o conceito mais anti-natura que conheço e, no entanto, é o que nos move. Depois, às vezes, ficamos surpreendidos quando nos damos conta que ela tem muitas facetas, como um diamante, e ainda nos sentimos mais tentados a alcançá-la. Mas, na realidade, a verdade só será nossa enquanto não lhe tocarmos, é persegui-la sem nunca a agarrar, senão ela engole-nos como um buraco negro.

Beijos a Todas *****

Samantha disse...

Olá Lemniscata,
Vim ao seu blog por sugestão da Hazel e adorei o post.
O seu blog já está entre os meus favoritos.
beijos

Andrea Guim disse...

Feliz dia de São Valentim pra você!!!
Bjs!

Aliks disse...

...adorei seu blog...
...adorei seus trabalhos em feltro, também gosto de trabalhar com ele , é muito versátil...
...estarei sempre passeando por aqui!!!!
Bjos